quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LUZES

"Havia poucos prazeres comparáveis a passar um bom tempo entre cálculos de rumo, abatimento e velocidade, prevendo que o cabo Tal ou o farol Beltrano apareceriam dois dias mais tarde, por volta das seis da manhã e a uns trinta graus pela amurada de bombordo, e depois aguardar a essa mesma hora na amurada húmida pelo sereno da madrugada, com os binóculos nos olhos, até ver aparecer, exactamente no lugar previsto, a silhueta cinzenta ou a luz intermitente que, uma vez cronometrada a frequência de relâmpagos ou eclipses, confirmava a exactidão dos cálculos. Chegado a esse momento, Coy modulava sempre um sorriso para o seu íntimo; um sorriso sereno e satisfeito. Depois, alegrando-se com a confirmação daquela certeza obtida pela matemática, pelos instrumentos de bordo e pela sua competência profissional, ia apoiar-se num ângulo da ponte (...)."

Fonte: O Cemitério dos Barcos Sem Nome
           Arturo Pérez-Reverte
           Edições ASA


Farol da Berlenga - Ilha da Berlenga, Peniche, Leiria, Portugal
Fotografia: Teresa Reis ©

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